quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Água mineral feita a partir do mar paulista chega aos EUA.

Moradores de Miami, na Flórida (EUA), poderão a partir do próximo mês
entrar em lojas de conveniência da cidade e levar pra casa uma nova garrafa
de água mineral, a H2Ocean. Seria apenas mais uma marca no mercado, não
fosse por um detalhe: a H2Ocean é feita a partir da água do mar, com
aplicação da nanotecnologia. E mais. O processo foi desenvolvido por
brasileiros. A H2Ocean nasceu da experiência de dois cientistas, que
começaram a desenvolver a tecnologia de controle de minerais em água
dessalinizada. Isso ocorreu há dez anos. Em seguida, somaram-se à dupla
outros dois sócios. Em 2003, eles conseguiram a patente do processo e
passaram a bater de porta em porta para tentar comercializar a água. 'Ao
longo de dez anos, foram investidos cerca de US$ 2 milhões na companhia',
diz Rolando Viviani, gerente de marketing da H2Ocean. Segundo ele, todas as
pesquisas foram feitas com recursos próprios dos quatro sócios. Seus nomes,
por enquanto, são mantidos em sigilo. No início, o objetivo da H2Ocean era
vender a água 'nanotecnológica' no Brasil. A empresa alega ter procurado a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2006 para realizar o
pedido de registro do engarrafamento do produto. A resposta teria sido a de
que não há legislação específica para que esse tipo de água seja vendido no
país por conta da sua fonte: o mar. Procurada, a Anvisa informou que a
H2Ocean nunca entrou com um pedido de registro. A empresa, entretanto,
enviou ao Valor fac-símile da página da Anvisa na internet em que aparece o
número do processo do registro e do protocolo, em nome de Aquamare
Beneficiadora e Distribuidora de Água. A data de entrada é de outubro de
2006 e o pedido foi negado em março do ano passado. Em dezembro, a mesma
Aquamare fez uma segunda tentativa, enviando uma carta à Anvisa em que
pedia esclarecimentos sobre o que fazer para obter o registro. A resposta
veio quatro meses depois, com a indicação de que a empresa deveria
'importar' uma legislação sobre o assunto. Ao Valor, a Anvisa também
informou que 'a empresa interessada na produção (...) de água dessalinizada
deve apresentar, preferencialmente por intermédio de uma associação,
proposta de regulamentação para avaliação pela Anvisa'. As dificuldades
para se obter o registro no Brasil levaram a H2Ocean a mudar de estratégia.
A empresa continua interessada em obter a aprovação da Anvisa, mas decidiu
priorizar a busca por novos mercados. A opção foi pelos EUA. 'O registro da
empresa saiu em três horas e a água foi analisada em 15 dias. Nos EUA,
conseguimos resolver em três meses tudo o que não conseguimos aqui em
quatro anos', afirma Viviani. O Valor, porém, não teve acesso ao registro
obtido no exterior. A venda da H2Ocean começa nos Estados Unidos em agosto,
em três estados: além da Flórida, Nova Jérsei e Atlanta. Foram embarcados
oito contêineres do produto, feito inicialmente na fábrica de Bertioga,
litoral sul de São Paulo. A unidade poderá ser desativada em breve. A
produção deve ser transferida para os EUA no fim deste ano. A
nanotecnologia foi o instrumento utilizado pela H2Ocean para transformar a
água do mar em água mineral dessalinizada. A água dos oceanos é rica em
micro e macro nutrientes, como o boro, o cromo e o germânio - elementos dos
quais o corpo humano necessita, em pequenas doses. Com a nanotecnologia, a
H2Ocean conseguiu, a partir da água recolhida em alto mar, retirar o sal e
manter grande parte dos minerais. Para chegar a esse resultado, os
cientistas criaram um filtro com nanotecnologia aplicada, o nanofiltro. O
processo inicial é o mesmo que se faz desde a década de 1940: a
dessalinização. Depois de retirado o sal, restam duas opções, segundo
Viviani: 'Ou todos os minerais são retirados da água ou ela continua
salgada'. Com uma sequência de nanofiltragens, a H2Ocean conseguiu manter
63 dos 86 minerais contidos na composição inicial. Surgiu a água do mar
mineral. Para saber se o resultado é bom, o brasileiro vai ter de esperar.
Ou passar em alguma 'deli' na próxima viagem à Disney.

(Fonte: Gazeta Mercantil - 30.07.08
)

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