segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ibirapuera recebe animais “expulsos” pelo Rodoanel

Quando o gavião-carcará chegou à Divisão de Medicina Veterinária e
Manejo da Fauna Silvestre –uma espécie de hospital de animais ligado à
Prefeitura de São Paulo, dentro do parque Ibirapuera – recebeu uma
ficha clínica que registrou, dentre outros dados, sua origem (lote 5
do trecho sul do Rodoanel), histórico (parou de voar depois de trombar
contra um caminhão) e data de entrada (sexta-feira, 12 de março).

Era o 39.519º animal atendido no lugar e um dos 221 que chegaram ali
vindos das obras do trecho sul do Rodoanel.

Segundo os biólogos da divisão, não era comum chegarem animais
silvestres daquela região. Depois que as obras começaram, os bichos
feridos vindos de lá já representam 4,7% de todos os atendidos no
período.

“Este lugar é um termômetro do que está acontecendo na cidade”, diz a
bióloga Brígida Fries. Grandes obras, como a reforma na marginal Tietê
e a do Rodoanel, causam impacto e aumentam atendimentos do centro de
tratamento.

O problema é que algumas daquelas espécies correm risco de extinção
local, se perderem seu habitat. É o caso dos bugios,
preguiças-de-três-dedos, quatis e cuícas, além de aves como o
juriti-piranga, cuiú-cuiú e tucano-do-bico-verde, que foram trazidas
das obras do Rodoanel. Aves migratórias e filhotes sofrem impacto
maior.

A Dersa não informou o número de animais silvestres atendidos nem como
avalia o impacto do Rodoanel na fauna silvestre. Disse apenas que o
projeto é “muito complexo” e que os animais são encaminhados para
vários centros.

Hospital de animais

No centro de tratamento do parque Ibirapuera, os animais silvestres
recebem medicamentos, passam por reabilitações pós-cirúrgicas e depois
são soltos na natureza (49%) ou enviados a cativeiro (14%). Um terço
não sobrevive.

Como num hospital, eles fazem exames e têm horário para banho de sol.
Antes de terem uma destinação, os “pacientes” ficam de uma semana a
vários meses em tratamento, dormindo em gaiolas separadas.

Quando precisam de uma reabilitação maior, vão para a outra sede do
centro, no parque Anhanguera. É o caso de corujas e gaviões que
precisam reaprender a voar ou a caçar.

A reportagem viu saguis, bugios, tartarugas e uma maioria esmagadora
de aves – inclusive o gavião-carcará, que foi entregue por uma
veterinária da Dersa na presença da Folha.

O centro comporta pouco mais de 500 animais e não recebe espécies
domésticas, nem animais que não estejam feridos ou doentes. Já recebeu
9.446 ameaçados de extinção.

CRISTINA MORENO DE CASTRO

Folha Online - 15/03/2010
"http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u706886.shtml"

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