terça-feira, 14 de agosto de 2007

O paradoxo da produção energética mundial (Édison Cardoso Teixeira )

O mundo atual compreende uma extraordinária abundância no consumo de energia. A demanda energética é sustentada por uma matriz baseada em combustíveis fósseis, e por tanto, não renováveis. A demanda energética global, bem como os diferentes padrões de uso e produção da mesma, apontam para um quadro preocupante em termos econômicos, sociais, ambientais e tecnológicos (Teixeira, 2005; Prugh et al., 2006). A base de toda esta cadeia energética insustentável é sustentada pelo petróleo: “ o petróleo tornou-se um fardo que representa uma ameaça à segurança global” (Prugh et al., 2006). Segundo estudos o petróleo parece se tornar alvo de grandes preocupações: ameaça a segurança mundial por ser um recurso finito e que já aponta para um declive de produtividade; exerce forte influência para a estabilidade climática, sendo um dos principais responsáveis pelo atual desequilíbrio climático global; ameaça a paz, democracia e direitos humanos em diversas regiões do planeta (Prugh et al., 2006).


Inserido neste contexto, as diferentes atividades humanas, lideradas pela exploração quase irracional dos recursos naturais como fonte de energia, ocasionaram estabilidades na temperatura do planeta. Fatores naturais deram pequenas contribuições para o aquecimento do último século, “há evidências novas e mais fortes que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos é atribuído a atividades humanas” (DUNN, S. & FLAVIN, C., 2002; Teixeira, 2005).


O consumo energético cresce e esta tendência parece não querer se estabilizar (SAWIN, J. L. 2004; Teixeira, 2005). Além disto, há um grande desequilíbrio no uso, distribuição e produção da energia em nossa matriz mundial (Atlas do Meio Ambiente do Brasil, 1996; Teixeira, 2005). O conjunto dos povos mais ricos do mundo consomem em média 25 vezes mais energia do que o total dos países pobres. Essa desigualdade nos leva a pensar: se o resto do mundo quiser ter acesso ao mesmo estilo de vida dos países industrializados, será que o planeta Terra agüentaria? A questão é saber se é possível usar mais energia, agredindo menos o meio ambiente, e desta forma buscar amenizar o rumo do clima planetário.


Mesmo a utilização de recursos renováveis na produção de energia, pode trazer alguns problemas. A construção de hidrelétricas desarranja os ecossistemas, impedindo, por exemplo, a corrida dos peixes rio acima para a desova. O uso da lenha continua devastando florestas nativas. A produção de cana-de-açúcar, ao redor das grandes metrópoles, afasta para mais longe a produção de alimentos, tornando-os mais caros, por causa do transporte. Da mesma forma o carvão mineral que é um recurso relativamente pouco explorado no Brasil, contribui para a poluição do solo, do ar e das águas (Atlas do Meio Ambiente do Brasil, 1996; Teixeira, 2005).


No futuro próximo o preço da gasolina vai nos obrigar a usar energia com mais eficiência. Não falamos em falta de luz, só em buscar fontes com menos efeitos ambientais. Não há uma única solução. A energia vai depender do sol, do vento, do hidrogênio, um pouco de nuclear e hidrelétrica, que, aliás não é totalmente limpa porque altera a ecologia dos rios. A saída é clara: buscar novos modelos de desenvolvimento e evitar a degradação. Temos que fazer uma escolha para mudar as atuais fontes de energia. Precisamos pensar num novo modelo de qualidade de vida. Temos que comer, mas não precisamos comer o último caviar do planeta (MENCONI, D. 2005). Como a ameaça é global países ricos e pobres enfrentam o mesmo dilema: como viver bem sem comprometer a vida na Terra. É preciso poupar, usar melhor e lançar mão das energias brandas que pouco agridem a natureza, como a dos ventos e a do sol. Produzir mais é consumir mais energia. Mesmo assim o consumo energético do Brasil, somado ao de toda América Latina, representa apenas 5,5% do total mundial. Por aí se vê que não importa se o recurso é renovável ou não, o aumento do consumo de energia, necessária ao desenvolvimento, sempre contribui para o aumento do potencial de risco de agressão ao meio ambiente. Este é o grande desafio mundial: continuar crescendo sem provocar mais danos ao meio ambiente. No futuro o crescimento populacional, mudanças climáticas e outros desafios ambientais poderão estressar os sistemas naturais e seus limites, enquanto os combustíveis tradicionais não poderão atender ao crescimento projetado da demanda energética. Questões como crescimento populacional e estresse ambiental devem ser o eixo fundamental na discussão do gerenciamento do uso da energia, bem como da escolha dos meios de sua produção.



Referências Bibliográficas



ATLAS DO MEIO AMBIENTE DO BRASIL / Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Segunda Edição, rev. aum. - Brasília, EMBRAPA - SPI: Terra Viva, 1996. Capítulo: Energia, pg 35-43.


_ DUNN, S. and FLAVIN, C. Antecipando a agenda da mudança climática. O estado do Mundo 2002. Cap.2 Pag.28-58 (on-line no site www.wwiuma.org.br).


_ MENCONI, D. 2005. Alerta da Natureza. In: ISTO É, Editora Abril, n-1874, 14/09/2005.


_ O Estado da Biodiversidade. GeoBrasil 2002 - Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil. Cap. 2, seção 2. Pág. 16-43. (on-line no site www.wwiuma.org.br).


_ SAWIN, J. L. 2004. Escolhendo Melhor a Energia. In: BROWN, L. R. et alli. 2004. Estado do Mundo. Salvador: UMA.



_ TEIXEIRA, É-C 2005. A sustentabilidade da atual matriz energética mundial. Revista Água Online, Edição 283 (http://www.aguaonline.com.br)


1- Pesquisador do Laboratório de Ornitologia e Laboratório
de Educação Ambiental da UNISINOS - Biologia.

1- Pesquisador do Laboratório de Ornitologia e Laboratório
de Educação Ambiental da UNISINOS - Biologia.



Fonte: Édison Cardoso Teixeira
Contato (arquedison@zipmail.com.br)

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