domingo, 22 de julho de 2007

Os males da poluição aquática


Por Ernesto

No princípio era apenas uma pequena cidade com uma pequena população. Havia um rio principal e seus afluentes. Seus habitantes acreditavam que o esgoto que lançavam no curso d'água não comprometeria a qualidade de suas águas. De certa forma eles estavam corretos, pois, naquela época, o rio apresentava uma elevada capacidade para se auto-depurar, ou seja, ele possuia uma grande vazão para uma pequena quantidade de matéria orgânica proveniente de esgotos. Realizavam-se atividades esportivas, eventos, recreação, etc. A água do rio também era utilizada para regar hortas e abastecer algumas residências. Como passar do tempo, a população aumentou, o peso do progresso começou a ser sentido com a chegada das indústrias, laticínios e frigoríficos, entre outros. Não havia nenhum controle quanto aos rejeitos gerados, nem da população, tão pouco das indústrias. Não bastou muito para aparecer as primeiras mudanças. A água do rio, que antes era utilizada para consumo, começou a apresentar odor forte, gosto ruim e, quem no rio se banhava ou de sua água bebia, começou a adoecer. Suas águas tornaram-se escuras e impróprias para quaisquer atividades. A quantidade de matéria orgânica e inorgânica tornou-se enorme. Os peixes, na luta pela sobrevivência subiam até a superfície para conseguir o pouco de oxigênio que restava. As algas, antes em quantidade controlada, se esbaldavam com a matéria orgânica que havia no rio aumentando sua quantidade consideravelmente, e estas também consumiam o oxigênio, num processo conhecido como eutrofização. Pouquíssimas pessoas pareciam se preocupar com agonia daquele célebre personagem que a tantos deu alegria ou matou a sede. Invasores começaram a habitar a margem do rio e retiraram toda sua vegetação. O rio se tornou mais raso, devido à quantidade de terra e areia que descia de seus barrancos, pois já não haviam os vegetais para contê-los. O tempo foi passando e nenhuma ação foi tomada por parte da sociedade e de seus governantes. O oxigênio da água acabou, ou se tornou insuficiente, os seres aeróbicos (que precisam do oxigênio para viverem) não mais existiam, as bactérias anaeróbias (que não necessitam do oxigênio) tornaram-se os seres reinantes do ambiente e passaram a exalar, em escala ainda maior o gás sulfídrico, com seu conhecido odor de "ovo podre". A população, sem conhecimento da situação, contribuía ainda mais para a degradação do rio, jogando todo tipo de lixo em seu leito, desde plásticos, vidros e garrafas pet, até móveis e outros objetos de grande porte. Os gastos com a saúde tornaram-se ainda mais elevados, enchentes constantes tornavam o trânsito caótico, destruíam casas, matavam pessoas. Pernilongos tornaram-se pragas incontroláveis. A situação tornou-se tão crítica que formaram-se conselhos para decidir sobre a melhor forma de controlar aquela situação. Eram projetos daqui e dali, que sempre ficavam apenas no papel. Levou muito tempo para perceberem o grande erro que haviam sido cometido, muitos anos seriam necessários para recuperar o rio, além da grande quantidade de dinheiro que teria que ser gasto. Somente quando o problema se tornou grave demais, evidente demais é que soluções caras e demasiadamente longas foram tomadas. Este pequeno texto pode ser aplicado à maioria de nossas cidades. Infelizmente, grande parte da população ainda joga esgoto "in natura" nos cursos d'água, não possuem programas de Educação Ambiental para sua população e insistem em não enxergar esses problemas ambientais, o que seria muito mais barato. Investir em saneamento básico, ou seja, na prevenção de certas doenças ligadas à falta de higiene, do que na cura destas, na proteção de áreas de matas ciliares, do que no pagamento de indenizações às famílias que habitam esses locais, ainda é a melhor solução. Só com um planejamento sério, um trabalho de educação das pessoas e o cumprimento das leis ambientais é que se chegará a um convívio harmônico entre seres humanos e natureza, garantindo um futuro melhor para as próximas gerações.

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