segunda-feira, 8 de junho de 2009

Biodiesel de abacate

Por Jussara Mangini

Agência FAPESP – O abacateiro pode ser uma nova alternativa para a
produção de biodiesel, de acordo com estudo realizado por
pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Segundo eles, o abacate apresenta vantagem em relação a outras
oleaginosas estudadas ou usadas para a produção de biocombustível,
como a soja. O motivo é que do mesmo fruto é possível extrair as duas
principais matérias-primas do biodiesel: óleo (da polpa) e álcool
etílico (do caroço).

“O objetivo principal da pesquisa era a extração do óleo para produção
de biodiesel. Mas, ao tratarmos o resíduo, que é o caroço, conseguimos
obter álcool etílico. Isso, por si só, é uma grande vantagem, já que
da soja é extraído somente o óleo e a ele é adicionado o álcool
anidro”, explicou Manoel Lima de Menezes, professor do Departamento de
Química da Faculdade de Ciências da Unesp, em Bauru, e coordenador da
pesquisa que teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa –
Regular.

O Brasil é o terceiro produtor mundial de abacate, com cerca de 500
milhões de unidades produzidas por ano. Cultivado em quase todos os
estados, mesmo em terrenos acidentados, a produção se dá o ano todo,
com 24 espécies que frutificam a cada três meses.

Não são todos os óleos vegetais que podem ser utilizados como
matéria-prima para produção de biodiesel, pois alguns apresentam
propriedades não ideais, como alta viscosidade ou quantias elevadas de
iodo, que são transferidas para o biocombustível e o tornam inadequado
para o uso direto em motor de ciclo diesel.

Segundo Menezes, o teor de óleo do abacate varia de 5% a 30%. As
amostras coletadas na região de Bauru (SP) apresentaram, no máximo,
16% de teor de óleo. “Esse índice é similar ao teor de óleo da soja
que, na mesma região, é de 18%”, comparou.

“Teoricamente, é possível extrair de 2,2 mil litros a 2,8 mil litros
de óleo por hectare de abacate”, disse. O número é considerado por ele
elevado quando comparado com a extração de outros óleos: soja (440 a
550 litros/hectare), mamoma (740 a 1 mil litros/hectare), girassol
(720 a 940 litros/hectare) e algodão (280 a 340 litros/hectare).

Já o caroço do abacate tem 20% de amido. Com base nesse percentual,
estima-se que seja possível extrair 74 litros de álcool por tonelada
de caroço de abacate. Valor próximo ao da cana-de-açúcar, que
possibilita a extração de 85 litros por tonelada, enquanto a mandioca
fornece 104 litros por tonelada.

Apesar da enorme disponibilidade do fruto no Brasil, o óleo do abacate
ainda é importado, pela falta de tecnologias adequadas para o
processamento. O principal obstáculo para obtenção do óleo é o alto
teor de umidade – o abacate tem 75% de água, em média –, que afeta o
rendimento da extração. Esse foi um dos desafios que a pesquisa se
propôs solucionar: aperfeiçoar as metodologias de extração para obter
melhor rendimento.

Extração do óleo

De todos os métodos estudados pelo grupo orientado por Menezes, o
melhor resultado foi obtido com a desidratação. Foi desenvolvido um
forno rotativo, com ar quente e, após a secagem, a polpa foi moída e
colocada na prensa, seguida do processo de suspensão com solvente. A
partir desse momento, foi transferida para uma centrífuga de cesto,
desenvolvida pelo grupo. “Com a força centrífuga, a polpa fica bem
seca e o rendimento melhora”, observou Menezes.

Da extração do óleo, passou-se para a produção do biodiesel, o que
inclui uma etapa de purificação. Uma vez purificado, foi feita a
síntese do biodiesel, já com o método tradicional utilizado
atualmente, que é a reação por transesterificação (conhecido como
método Ferrari), seguido pela caracterização por cromatografia gasosa.

Essa é a técnica exigida pela ANP 42, regulamentação da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis que define a
caracterização e avaliação da qualidade do produto obtido e deve ser
seguida pelos mercados comprador e fornecedor.

O primeiro estudo feito com o caroço foi a hidrólise enzimática, com a
qual se obteve rendimento baixo, de cerca de 24 litros por tonelada.
Agora, os pesquisadores estão iniciando uma nova etapa, que é a
hidrólise alcalina e/ou ácida sob pressão, seguida por hidrólise
enzimática para melhorar o rendimento.

Grande parte dos parâmetros físico-químicos está de acordo com as
exigências da regulamentação ANP 42, com exceção do teor de glicerina
total e acidez, que ficaram um pouco acima, segundo Menezes.

Os teores de enxofre, fósforo e sódio não foram determinados nessa
etapa do projeto devido à dificuldade em encontrar laboratórios para
executar os ensaios. Esses são aspectos que a pesquisa continuará
analisando para que fiquem totalmente compatíveis com os parâmetros da
ANP 42.

“Nosso objetivo é propor o emprego da técnica de espectrofotometria de
absorção atômica, empregada na determinação de metais e desenvolver
uma nova metodologia que possa ser adaptada para análise do fósforo”,
disse.

Como os demais resultados obtidos estão em conformidade com a
regulamentação, os pesquisadores consideram que a metodologia
empregada é adequada para realizar a síntese do produto.

Viabilidade econômica

Segundo o estudo feito na Unesp, as características do biodiesel do
óleo de abacate são bastante semelhantes às verificadas com o
biodiesel de soja, com exceção da coloração, que é esverdeada,
diferente do amarelo no caso da soja. Mas isso não afetaria a
qualidade.

“Na análise de carbono, a clorofila não alterou o resíduo de carbono
que a norma estabelece. Ficou abaixo. Portanto, nesse caso, a cor não
interfere na qualidade, é mais uma questão de aparência. Clarificar,
portanto, é opcional, diferentemente da aplicação medicinal, em que
clarificar levaria à perda de propriedades medicinais, ao passo que a
coloração escura não tem apelo comercial na produção de cosméticos”,
disse Menezes.

A viabilidade econômica do biodiesel de abacate não foi foco dessa
etapa do estudo nem é a especialidade desse grupo de pesquisa, segundo
o coordenador. O custo do biodiesel ainda é alto. Produz-se óleo de
soja a um custo de R$ 1,20 o litro. O álcool anidro para adicionar é
comprado a R$ 0,74 o litro. O abacate tem a vantagem de oferecer as
duas matérias-primas e, por enquanto, a um custo mais baixo que o da
soja, segundo Menezes.

A extração do óleo e álcool do abacate ainda demanda investimentos em
equipamentos. De acordo com o professor da Unesp, é necessário estudar
o desenvolvimento de um despolpador – para separar a polpa do caroço –
e produzir a centrífuga para obter máximo rendimento. O estudo
resultou na apresentação de quatro trabalhos em congressos nacionais.

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