segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Mercados de carbono da UE e do Protocolo de Quioto completam conexão

A ligação entre os mercados de carbono da União Européia (EU) e do Protocolo de Quioto foi completada nessa quinta-feira (16) pela manhã, após meses de atrasos por problemas técnicos

A conexão permite que os países participantes do esquema de comércio de emissões da UE importem créditos de carbono gerados por projetos realizados em países em desenvolvimento com o objetivo de reduzir as emissões com menor custo, pelo chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) previsto no Protocolo de Quioto.

“As transações estão acontecendo e tudo parece estar certo”, afirma o comissário do Meio Ambiente da EU, Stavros Dimas.

Os participantes do mercado estavam ansiosos esperando por essa união dos dois esquemas desde 2007 – a ligação não havia ocorrido até agora em função de atrasos no desenvolvimento da tecnologia necessária. Segundo a Reuters, havia temores de que a falta de uma ligação funcional resultasse em falha na entrega dos contratos futuros por parte dos vendedores de Reduções Certificadas de Emissão (RCEs, as unidades transacionadas pelo MDL).

“A ligação deveria reduzir os preços [das emissões] em curto prazo, sendo que eu esperaria mais vendedores do que compradores no mercado”, avalia Trevor Sikorski, da Barclays Capital.

Ainda conforme a Reuters, os analistas esperam que o a diferença de preço entre os créditos provenentes de RCEs e de permissões européias nos contratos de balcão aumente num primeiro momento, enquanto os vendedores de RCEs correm para o mercado para levantar fundos.
“O spread RCE– EUA deve diminuir para €1,50 ou €2 ao longo de 2009, pois parece que haverá um déficit de RCEs”, comenta o analista da Societé Générale, Emmanuel Fages.

Segundo a chefe de comercialização da Ecosecurities na Europa, Lisa Ashford, “a ligação oferece muito mais clareza em termos de transferência das RCEs, tornando a entrega muito mais simples, mas não necessariamente terá um grande impacto sobre as transações”.
Crise

O mercado mundial de carbono tem passado por um período de incertezas devido à crise global dos créditos, e muitos países da UE colocam em cheque as suas metas climáticas para 2020. Mas as reações começam a ficar mais positivas para o clima, ao passo que as negociações evoluem.

Na quarta-feira (15), o secretário de mudanças climáticas e energia da Inglaterra, Ed Miliband, anunciou que está considerando aumentar as metas de redução das emissões de CO2 de 60% para 80% em 2050. Ele insiste que o país não irá retroceder nos compromissos climáticos devido à recessão.

“Após os eventos das últimas três semanas, não seria verdade dizer que as mudanças climáticas são prioridade na cabeça de milhões de pessoas. Mas política é liderança, e isto significa dizer que esta é uma questão incrivelmente importante, não apenas para nós, mas para as nossas crianças”, afirma Miliband em reportagem do The Guardian.

Tanto ele quanto o presidente francês Nicolas Sarkozy, ressaltam a importância da decisão que será feita até o final do ano sobre o pacote energético-climático da UE para 2020.

“É assim que poderemos enviar o sinal de que somos capazes de conseguir um acordo sobre um novo tratado global da ONU em Copenhague no final do próximo ano”, afirma Miliband. “Estou absolutamente comprometido com os 30%”, completa ao se referir às metas de redução das emissões de gases do efeito estufa da UE para 2020, caso um acordo global seja alcançado em 2009.

Sarkozy ratifica a declaração de Miliband: “nós vamos alcançar um compromisso para um grande acordo” sobre o pacote energético-climático da UE. Segundo o presidente francês, diversos líderes europeus demonstraram relutância quanto ao ambicioso plano, mas “nenhum deles diz que renunciará aos objetivos e ao calendário”. A França é a atual portadora da presidência rotativa da UE.

Dois bilhões de toneladas

Apesar da instabilidade econômica atual, na segunda-feira (13) a Bolsa do Clima da Europa (ECX) anunciou ter ultrapassado a marca de 2 bilhões de toneladas de CO2e negociadas. Os contratos derivados de créditos de carbono na ECX cresceram de 95 milhões de toneladas durante o primeiro ano em 2005 para 450 milhões de toneladas em 2006 e para mais de 1 bilhão de toneladas em 2007.

O chefe-executivo da ECX, Patrick Birley, atribui os indicadores positivos ao sucesso da introdução do sistema “cap and trade” na Europa.

O “cap and trade” é um sistema de comércio de emissões, no qual as emissões totais são limitadas. O Protocolo de Quioto é um sistema do tipo “cap and trade” no sentido de que as emissões dos países do Anexo B são limitadas e as permissões em excesso podem ser negociadas em um mercado.

* Com informações de agências internacionais. (*) Por Fernanda B Muller, do Carbono Brasil

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