segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Rayovac as amarelinhas ainda no mercado.

A poucos anos era comum que indústrias se livrassem de seus rejeitos de formas variadas. Só para se ter uma idéia a indústria de pilhas Eveready, conhecida por “As Amarelinhas”, que se localizava na Via Anchieta, na Vila Guarani em São Paulo, tinha um poço bem fundo onde eram jogadas as pilhas rejeitadas pela inspeção de qualidade da empresa. Hoje nesse local existem prédios. Esse é só um exemplo, já que isso era prática comum das empresas. Eu mesmo, por volta de 1968, trabalhava na metalúrgica Asbrasil, em São Bernardo e tinha a tarefa de despejar produto químico (tricoletinelo), utilizado na ferramentaria para a lavagem de peças, num poço que ficava ao lado do Ribeirão dos Meninos, dentro do terreno dessa empresa. Era a política do gato, ou seja, enterrar e cobrir.

Infelizmente, hoje temos em todo o Brasil e em todo o mundo, principalmente nas cidades industrializadas, milhares de áreas contaminadas. O caso do Condomínio Barão de Mauá, localizado na cidade de Mauá, em São Paulo, onde milhares de pessoas residem sobre uma área contaminada pelos rejeitos da indústria Cofap, não é um fato isolado. Temos a área da Solvay, indústria química Belga, localizada às margens da represa Billings, no chamado “corredor polonês”, que abastece parte da Região Metropolitana de São Paulo, contaminada por caulim, um produto extremamente tóxico. Em Pilões, um bairro de Cubatão, localizado na Baixada Santista, temos enterrado toneladas de rejeito cancerígeno (Pó da China) descartado pela indústria francesa Rhodia. Em Pilões, os moradores que residiram sobre essa área tem a vida encurtada. Isso mesmo, os tumores aparentes destes moradores encurtam suas vidas. Na Vila Carioca temos o famoso caso da Shell, que contaminou toda a vizinhança de sua área de estocagem de combustível. Um caso gritante no ABC se localiza no Bairro Fundação, em São Caetano, onde a Matarazzo enterrou ao lado do Rio Tamanduateí toneladas de Hexaclorobenzeno, o famozo BHC, mais conhecido por “mata rato e pulgas” e mesmo sendo de conhecimento da Cetesb, a mesma nada faz para impedir que no local fosse construido um viaduto. Agora temos uma outra área industrial, antiga Cerâmica São Caetano, que vai se transformar num shopping.

Na Matarazzo de São Caetano ocorreu a 1ª morte no Brasil devido a contaminação industrial, por causa da manipulação desse produto que hoje se encontra enterrado no local. É evidente que outros milhares de trabalhadores já morreram por contaminação industrial, já que essa é uma morte lenta, todavia, o caso do operário morto na Matarazzo em São Caetano, foi comprovado judicialmente como morte por contaminação industrial.

Enfim, esse é um trabalho sério e árduo que precisa estar sendo sempre cobrado por parte da sociedade. No caso da Matarazzo, o próprio promotor de meio ambiente de São Caetano me disse pessoalmente que nada seria construído naquela área, o que não ocorreu e agora eu sou surpreendido com a atitude do Governo Estadual em conceder a cidade de São Caetano o diploma de Município Verde e Azul.

Poderia, ao meu ver, ser de qualquer cor, já que a reação química do solo desta cidade pode variar de cor. Durma-se com um barulho desses, ou com uma contaminação dessas.

José Contreras – Diretor do MDV – Movimento em Defesa da Vida do Grande ABC

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