As usinas a óleo contratadas na quinta-feira só entrarão em funcionamento se, em épocas de seca, o sistema hídrico nacional não der conta do suprimento. Segundo especialistas, essa função de complementação poderia ser exercida pela energia eólica, que apesar de não ser suficiente para abastecer o país sozinha, funciona bem em parceria com as hidrelétricas. “Quanto mais eólica eu tiver, mas confiável é o sistema hídrico”, diz Amilton Moss, pesquisador do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel). Para ele, a melhor opção ainda é investir em hidrelétricas para suprir as necessidades que o país terá no futuro. No entanto, a diversificação é necessária, sendo a energia eólica uma opção importante.
Um ponto negativo levantado para a energia gerada pelas usinas eólicas é que ela precisa ser usada no momento em que é produzida. Se ventar de madrugada, por exemplo, ela é desperdiçada. E se não ventar num horário de pico, ela faltará. O efeito disso é que o chamado “fator de capacidade” da energia de ventos (ou seja, o quanto ela realmente produz) fica entre 30% e 40% de sua capacidade instalada. Mas pesquisas apontam que há uma certa complementaridade entre os regimes de vento e de chuva no Brasil – ou seja, nas épocas de seca, venta mais. Com as eólicas ligadas ao sistema elétrico nacional, sempre que ventar será possível economizar a água armazenada nos reservatórios das usinas hidráulicas. “Também pode ser uma boa forma de economizar água no Nordeste”, diz Moss.
Preço alto
A questão do preço alto é o que o goveno parece considerar o principal entrave às eólicas no Brasil. De fato, considera-se que a energia dessas usinas custa no mínimo 200 reais o megawatt/hora. Em comparação, as distribuidoras de energia que participaram do último leilão pagarão em torno de 135 reais pela eletricidade produzida nas termelétricas a óleo nordestinas. Além disso, não há oferta considerável de turbinas produzidas em território nacional e o preço da importação eleva o valor.
Segundo Osvaldo Soliano, professor da Universidade de Salvador, no mercado internacional a energia através dos ventos está cotada a um preço muito mais competitivo
O Brasil tem hoje cerca de 230 MW em capacidade instalada de eólicas. Segundo o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro (produzido pelo Cepel), o país tem ventos para produzir até 143.000 MW (o que equivale a mais de dez vezes a potência da usina de Itaipu), 52% no Nordeste. O crescimento foi grande nos últimos anos, principalmente devido ao Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), que dá estímulo a energias limpas (inclui também biomassa e pequenas centrais elétricas). Também estão programadas para serem construídas 17 usinas com o equivalente a 460 MW de capacidade. Apesar do crescimento relativo, o número é pequeno. Se comparada com a de outros países em desenvolvimento, como China (que tem 2.600 MW) e Índia (com 6.200), a capacidade instalada de eólicas no Brasil é mínima.
“A energia eólica é estratégica”, diz Soliano. Além de evitar a emissão de gases do efeito estufa na sua operação, ela dispensa matéria-prima custosa. Só depende do vento para funcionar. E tem outra vantagem, mesmo em relação às hidrelétricas: enquanto essa requer a perda de uma determinada área, que será alagada quando a barragem for construída, as turbinas eólicas podem ser erguidas no meio de plantações ou criações de gado. Com isso, é possível gerar renda extra para produtores que permitem a instalação.
Decisão política
Segundo o pesquisador da Coppe Roberto Schaeffer, o preço das turbinas eólicas, tendem a cair conforme a energia seja mais usada, por conta do barateamento pela produção em escala. Ele lembra que, apesar de ser uma fonte muito limpa, também se reportam alguns problemas ambientais causados por ela: há casos de morte de aves migratórias pelas hélices e populações que vivem no entorno reclamam do ruído constante. “Ela ainda é, mesmo assim, a mais competitiva das energias alternativas”
O custo alto das eólicas em comparação com as fontes mais poluentes para Schaeffer tem explicação: não se leva em conta o custo ambiental do investimento, seja quando se alaga determinada área ou se polui a atmosfera. “Alguém vai pagar esse custo no futuro, não necessariamente quem está pagando pela energia”, diz ele.
Uma solução para essa aparente contradição, para o pesquisador, é que o governo tome a frente de pagar pela diferença de custo, criando um fundo, por exemplo. Ou obrigando as concessionárias de eletricidade a comprar uma parte de sua energia verde, com direito a repassar essa conta para o consumidor final. Num cenário alternativo montado por Schaeffer para 2025, em que o governo investe em diminuição de emissões na direção de uma matriz limpa, ele estima que 3,5% da matriz brasileira possa vir de eólicas. Nem é tanto. Mas, para isso, o governo terá que tomar iniciativa. Antônio Moss concorda: “Num determinado momento, a decisão vai ser política”.
Contato (rebia@yahoogrupos.com.br)
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