quarta-feira, 30 de julho de 2008

Atrás de uma borboleta azul

Marina Silva
De Brasília (DF)

Florestas não são apenas estatísticas. Nem apenas objeto de negociações, de disputa política, de teses, de ambições, de pranto. Antes de mais nada, são florestas, um sistema de vida complexo e criativo. Têm cultura, espiritualidade, economia, infra-estrutura, povos, leis, ciência e tecnologia. E uma identidade tão forte que permanece como uma espécie de radar impregnado nas percepções, no olhar, nos sentimentos, por mais longe que se vá, por mais que se aprenda, conheça e admire as coisas do resto do mundo.

Vivi no seringal Bagaço, no Acre, até os 16 anos. Tenho pela floresta muito respeito e cuidado. Quem conhece a mata, não entra de peito aberto, mas com muita sutileza. Ali estão o suprimento, a proteção e os perigos.

E também o mistério, algo não completamente revelado. Vidas e formas quase imperceptíveis. O encontro, a cada momento, de um cipó diferente, uma raiz, uma textura, uma cor, um cheiro. A descoberta dos sons. Até o vento na copa das árvores compõe melodias únicas, de acordo com a resistência oferecida pela castanheira, a samaúma, o açaizeiro.

Na minha infância, o som que achava mais bonito era o do período da florada das castanheiras. A castanheira é polinizada por uma abelha enorme, o mangangá. Imaginem centenas de mangangás entrando nas flores para tirar o néctar! Como a flor é côncava, na hora de sair têm que fazer uma força extraordinária nas asas, num vôo de frente pra trás, que provoca um barulho de máquina potente e rouca. Uma de minhas primeiras lembranças do mundo é do barulho dos mangangás na copa da castanheira ao lado do terreiro da nossa casa.

Embora para muitas pessoas a floresta possa parecer homogênea, sempre a vi como espaço de diversidade. Gostava de prestar atenção em pequenas coisas, como formigas levando folhas para o buraco. O caminho das formigas era bem limpinho, parecia varrido. A estrada de seringa era cheia de folhas, tocos, raízes, de espera-aí, um espinho de rama que arranha a perna quando a gente passa. E eu imaginava como seria bom ter uma estrada de seringa limpa como o caminho das formigas!

Outra formiga, a tucandeira, tem uma ferroada tão dolorosa que não dá nem para explicar. Mas havia também uma razão mítica pra temê-la. Meu tio Pedro Mendes, que durante muito tempo conviveu com os índios do Alto Madeira, dizia que as tucandeiras viravam cipó de ambé. Se morresse uma na copa da árvore, o corpo virava a planta e as pernas viravam os cipós. Quando se era mordido de tucandeira, a primeira coisa a fazer era procurar um cipó de ambé, cortar e beber a água porque ela era o antídoto. Não sei se era mesmo, mas ajudava a aliviar a dor.

Meu tio ensinava coisas em que a gente acreditava profundamente. Ele dizia que se a gente se perdesse e visse uma borboleta azul, era só segui-la que ela nos levaria para a clareira mais próxima e de lá acharíamos o caminho de casa. Essa borboleta é linda, enorme, quase do tamanho da mão. Nunca vi um azul igual. Que, aliás, é marrom. Os pesquisadores do INPA descobriram que ela tem uma engenharia de disposição das escamas das asas que faz com que, na incidência de luz, se tornem azuis.

Depois entendi porque nos levava para casa. Porque gosta de pousar em frutas como banana e mamão maduros, já bicadas pelo passarinho pipira. Quando sente fome, procura a primeira clareira onde haja um roçado de frutas. E lá perto, certamente haverá uma casa. São coisas que parecem crendice, mas há conhecimento científico associado, obtido pelo mesmo princípio do método acadêmico: observação sistemática dos fenômenos.

Antes de existir Ecologia como ramo do conhecimento ou ambientalismo como movimento, o sistema da floresta já tinha suas normas, o seu "Ibama" natural, sua sustentabilidade, por meio de um código mítico que funcionava como legislação de proteção da mata e das formas de vida que a habitavam. Não se podia pescar mais do que o necessário, porque a mãe d´água afundaria a canoa. Não se podia caçar demais porque o caboclinho do mato daria uma surra. Não podia matar animal prenhe porque a pessoa ficaria panema, ou seja, sem sorte. E para tirar o azar seria preciso um ritual tão complicado que era preferível deixar o bicho em paz.

As práticas de acesso aos recursos da floresta, mediadas por esse código mítico, acabavam levando a um alto grau de equilíbrio. Só se caçava quando acabasse a carne seca pendurada no fumeiro do fogão. Logo, se não se podia caçar em excesso, não havia carne para venda, só para o próprio consumo. Contrariada essa norma, o caboclinho do mato castigaria o infrator com uma surra de cipó de fogo com nó na ponta. A pessoa apanhava mas não conseguia se defender porque não via a entidade. Ficava toda lanhada, com febre. Até o cachorro, se acuava uma caça desnecessária, começava a pular e ganir de dor. Era o caboclinho disciplinando o animal.

Os relatos eram inúmeros e me deixavam com muito medo de andar pelo mato. Superava-o, em primeiro lugar, cumprindo à risca as leis míticas. Além disso, desde criança tenho uma fé imensa e achava que, sendo justa com a natureza, Deus me protegeria.

E mesmo com todo esse medo, minhas irmãs e eu gostávamos de andar pela floresta porque lá a gente se divertia muito. Por exemplo, fazendo balanço de um cipó muito resistente, em árvores que chegavam a trinta metros de altura. Pescar nos igarapés, colher bacuri, abiu, taperebá, ingá, tucumã, cajá, era muito bom.

Era um mundo de sabedoria tradicional, de organização social e cultural inseparável da existência da floresta. Até que um dia chegaram as motoserras e tratores e desconstituiram os códigos míticos, criando a necessidade crescente do aparato legal que, por não estar dentro do homem, precisa de instituições e mecanismos para implementá-lo. Não foi à toa que a primeira grande operação de combate a desmatamento feita pela Polícia Federal, envolvendo 480 agentes, no estado de Mato Grosso, foi batizada de Operação Curupira.

Se abríssemos hoje nossa sensibilidade para os valores da floresta, talvez se tornasse mais fácil redefinir o que entendemos por qualidade de vida. Quem sabe, pode estar faltando uma enorme borboleta azul para nos conduzir para casa, onde os frutos de nossas decisões sempre nos aguardam em mesa farta.

Marina Silva é professora secundária de História, senadora pelo PT do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente.


Fale com Marina Silva: marina.silva08@terra.com.br

Opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não necessariamente estão de acordo com os parâmetros editoriais de Terra Magazine.

terça-feira, 22 de julho de 2008

“Arco de Fogo” multa serrarias em R$ 274 mil

Belém (29/02/08) – Há uma semana em campo, a Operação “Arco de Fogo”, da Polícia Federal em parceria com o Ibama e com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), e com apoio da Força Nacional e da Polícia Militar do Estado, em Tailândia, no nordeste do Pará, já embargou 67 fornos de carvão. Isso resultou em multa de R$ 183 mil para duas serrarias. Os fornos ainda não foram destruídos, pois havia grande quantidade de carvão sendo queimado. Sua a destruição poderia causar problemas ao maquinário. No entanto, no começo da próxima semana, os fornos serão destruídos pelas próprias serrarias, sob a fiscalização do Ibama e da Sema.

Na manhã de hoje, os fiscais concluíram a fiscalização em uma pequena serraria. Ela não possuía nenhum documento do volume de madeira no pátio. Cerca de 370 m³ de madeira foram apreendidos, sendo 290 m³ em tora e 80 m³ serrada. Além das madeiras, os fiscais apreenderam todo o maquinário dessa serraria: uma serra fita, duas serras circulares, três estopadeiras e um trator carregadeira. O total de multas foi de R$ 91 mil, sendo R$ 10 mil referentes à falta de licença para funcionar; R$ 37 mil por possuuir madeira irregular; R$ 21 mil pelo funcionamento de 21 fornos de carvão sem licença; e R$ 33 mil por utilizar carvão de origem ilegal.

Luciana Almeida
Ascom/Ibama PA

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Se vai consumir, que seja com responsabilidade

O consumo é um pressuposto básico para a vida cotidiana, mas a forma exacerbada como vem sendo feito coloca em risco os processos de renovação dos recursos naturais. Por isso, a mudança de postura para um consumo consciente é urgente.

A pressão sobre o patrimônio natural começa a esgotar os recursos naturais e interferir nos processos de renovação da natureza. O consumo exagerado da sociedade moderna é o principal motor dessa pressão. Atualmente se consome cerca de 25% a mais de recursos do que a natureza consegue repor de acordo com o relatório Planeta Vivo 2006 da organização não-governamental WWF. Para se ter idéia, segundo outra pesquisa da WWF, esta de 2008, se todas as classes sociais adotassem o estilo de vida da elite brasileira, seriam necessários três planetas para sustentar o consumo.

Preocupado com essa situação, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces) lançou em junho o Catálogo Sustentável, um portal em que os visitantes encontram informações de produtos, serviços e empresas sustentáveis. “Criamos um catálogo virtual em um espaço aberto e amplo para reunir e permitir o acesso a produtos com características de sustentabilidade. Nosso objetivo não é, de forma alguma, estimular o consumismo, mas a procura por produtos feitos de forma sustentável”, afirma a diretora executiva do GVces, Rachel Biderman.

Para fazer parte do catálogo, o produto deve atender a pelo menos um dos critérios adotados pela equipe como eficiência energética, toxicidade, biodegradabilidade entre outros. No entanto, essa “peneira” deve ficar mais fina no futuro. “Neste momento inicial, queremos premiar quem deu o primeiro passo. Com o tempo, ficaremos mais rigorosos. De repente, atender a apenas ao critério de eficiência energética não será suficiente, também precisará ser feito com material reciclado, mas o mercado não dispõe desses produtos atualmente”, explica Biderman.

Outro objetivo da iniciativa é divulgar informações referentes à sustentabilidade empresarial, de forma a estimular que a demanda influencie a construção de um novo modelo de produção. Desde os cidadãos consumidores até as grandes empresas e órgãos públicos compradores estão dentro do público alvo. “Queremos que o catálogo também sirva como uma ferramenta de educação. Caso precise realmente consumir, que procure por produtos com menos impactos”, explica a diretora executiva do GVces.

O que precisa é consciência
Iniciativas como o catálogo sustentável são importantes, mas ainda falta compreensão da população sobre o seu impacto na natureza. “Falta nas pessoas consciência sobre o que estão fazendo. O ato da compra é desvinculado da consciência sobre o impacto da compra sobre o ambiente”, afirma a analista de projetos ambientais da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, Maísa Guapyassú.

O ecólogo ambientalista e professor da Universidade Regional de Blumenau (SC), Lauro Bacca, afirma que as pessoas estão perdendo a referência devido ao aumento absurdo do consumo. “Comemora-se muito que conseguimos reciclar cerca de 90% das latinhas de refrigerante no país, mas se esquece que os outros 10% que acabam no ambiente representam aproximadamente um bilhão e meio de latas só no Brasil. Há 20 anos, esse número era zero, agora, a quantidade é imensa”, explica.

O professor acredita que a questão ambiental cresceu bastante nos últimos anos, porém a devastação ambiental aumentou muito mais. “Os carros de hoje lançam uma quantidade muito menor de poluentes no ar do que os de 20 anos atrás, mas o número de automóveis nas ruas anula esse avanço. Vivemos uma era de ilusão ambiental, esses avanços são necessários, mas temos que acabar com a crença de que só porque inventamos uma tecnologia avançada ambientalmente as coisas estão às mil maravilhas”, comenta Bacca.

O afastamento do homem moderno da natureza é outro dos fatores que contribuem para o desinteresse das pessoas em ter mais cuidado com suas atitudes de consumo, segundo Guapyassú. “Essa desconexão faz com não tenham consciência de suas ações. Acham que a tecnologia vai resolver tudo independentemente do custo”, afirma.

Consuma mais, consuma muito
O processo de indução ao consumo feito pelos diversos meios de comunicação também é responsável pelo problema, pois entra em conflito com a necessidade de ter mais cuidado na hora de comprar. “Esse modelo de sociedade de consumo criou a utopia de que o Brasil é um país inesgotável”, afirma Oscar Fergutz, analista de projetos da Fundação Avina. Guapyassú divide a mesma opinião, “queremos que as pessoas tenham comportamento ambientalmente correto, mas ao mesmo tempo elas são bombardeadas com propaganda e se valoriza a compra de produtos desnecessários. Estamos em um mundo em que as pessoas são valorizadas pelo consumo”, afirma.

Bacca não acredita que alguém diga que o meio ambiente não é importante, mas na hora de tomar medidas positivas para a natureza, mesmo as mais simples, é difícil encontrar pessoas dispostas a isso. Para ele, o governo também tem sua parcela de influência, pois não cria ações efetivas para estimular essa mudança. “O consumo consciente ainda não atingiu a grande massa e as autoridades são responsáveis em grande parte por isso. Pouco se divulga, pouco se impõem. Os governantes gostam muito de dividir o ônus com a população, nunca o bônus”, comenta.

“Se essa lógica se perpetuar, estaremos sempre pressionando o meio ambiente, pressionando na produção com a retirada dos recursos, e depois na volta, na hora do descarte. Cria uma pressão sobre o planeta tão grande, que ele não consegue se recuperar”, explica Biderman.

Tomando a frente
Oscar Fergutz é um desses consumidores que sempre procuram levar em consideração o impacto do produto e de suas ações sobre o meio ambiente. Sempre observa a quantidade de embalagens, a eficiência energética, a distância do transporte da mercadoria na hora de adquirir alguma coisa. Para ele, a responsabilidade social não pode ser só das empresas e dos governos, mas de todos que fazem parte da sociedade. “Devemos estar conscientes o tempo inteiro. Tudo o que fazemos consome recursos do planeta”, afirma.

É este tipo de postura que o planeta precisa urgentemente de seus mais numerosos habitantes. “Nosso planeta Titanic está afundando e as pessoas não estão percebendo, continuam na proa do navio fazendo festa”, conclui o professor Bacca.

Para saber mais sobre consumo consciente, visite os sites do GVces, do Instituto Akatu e do Instituto de Defesa do Consumidor.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

G8 empurra para frente compromissos efetivos com redução de emissões de gases

Por Mylena Fiori, da Agência Brasil

Hokkaido (Japão) - Como na cúpula do ano passado, na Alemanha, os sete países mais industrializados do mundo e a Rússia conseguiram empurrar para frente compromissos efetivos com a redução de emissões de gases de efeito estufa.

As mudanças climáticas foram tema principal da cúpula de 2007, na cidade alemã de Heilligendamm. Japão, Canadá e União Européia (que, como bloco, não integra o G8 mas participa das reuniões como convidado especial) defenderam a redução das emissões em 50% até 2050 e os demais países do G8 se comprometeram a considerar a proposta na reunião deste ano, em Hokkaido.

A resistência, especialmente norte-americana, levou a uma manifestação morna sobre o tema. Os poderosos do G8 jogaram a aprovação da meta para a Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima, que vem tentando negociar um regime de emissões pós-2012, quando vencem as metas do Protocolo de Quioto.

Eles reconheceram, porém o princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas, assumindo que os países desenvolvidos devem liderar o processo de redução de emissões e fixar metas também de médio prazo. (
Liderar desta forma? Com metas tão a longo prazo?)

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, assegura que os países emergentes estão dispostos a colaborar. O Brasil, no entanto, é contrário à fixação de metas por setores da economia, como a siderurgia – isso implicaria uma mudança profunda na economia das nações em desenvolvimento.

"Não queremos que seja uma mesma meta para um setor no mundo inteiro", frisou o chanceler. "A prioridade do desenvolvimento dos países pobres é muito forte", afirmou.

(Envolverde/Agência Brasil)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A água nossa que vai embora

Vinícius Carvalho - redacaojbeco@terra.com.br - JB - 06/08/2006

Novo conceito joga luz sobre a água utilizada no processo de produção, que é exportada e ainda desconhecida pelo consumidor brasileiro

O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de água. Ela não sai em garrafas, tonéis e em gigantescos navios-tanque. Segundo uma nova classe de especialistas, trata-se da água incorporada ao processo produtivo de qualquer bem industrial ou agrícola e que é indiretamente comercializada. Trata-se da "água virtual", embutida especialmente nas commodities agrícolas e que, na maioria dos casos, não é contabilizada nos custos de produção.

Cada quilo de soja, por exemplo, exige em média dois mil litros de água para ser produzido. Já o quilo da carne bovina exige 43 mil litros de água. Neste cálculo entram não só a água consumida diretamente pelo animal, mas também a água utilizada na produção de alimentação do gado, no tratamento (serviços como limpeza), no abate e ainda os volumes necessários para o processamento dos produtos finais. Para se ter uma idéia, uma refeição com 250 gramas de carne de boi e 250 gramas de arroz demandaria, em média, mais de 11 mil litros de água. Por sua vez, se a refeição for de batata e carne de frango, na mesma quantidade, o total demandado cai para cerca de mil litros de água.
O levantamento apresentado no último encontro da Anppas (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade) por pesquisadores da Unicamp, utiliza os dados de exportação de cada produto de acordo com o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e de volume de água virtual contida em cada produto a partir de estimativas da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura).
A partir deste conceito, os pesquisadores podem saber o quanto de água virtual os países exportam ou importam e buscar maneiras sustentáveis da utilização deste recurso. "A concepção de água virtual está relacionada ao conceito de pegada ecológica, pois é necessário perseguir os passos e etapas do processo de produção avaliando cada elemento, os impactos e os usos dos recursos naturais envolvidos no processo como um todo, desde sua matéria-prima básica até o consumo", explica Ricardo Ojima, pesquisador do Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp (Nepo) e um dos autores do trabalho.
Segundo Ojima, o Brasil é hoje o sétimo exportador mundial de água virtual, especialmente por conta da produção de soja e carne bovina. Dados do MDIC mostram que a soja foi responsável, em 2005, por mais de 58% das exportações do grupo de commodities de maior participação na balança comercial brasileira (soja, carnes e açúcar). No mesmo ano, considerando apenas a soja, a China apresentou-se como um dos principais importadores da água virtual brasileira, tendo levado 16,1 bilhões de m3. Isto é, segundo dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), o equivalente a quatro vezes o consumo médio diário de toda a Região Metropolitana de São Paulo.

Passivo hídrico

Dados do MDIC indicam ainda que a exportação de água virtual vem crescendo ao longo dos últimos anos. Tomando como referência a água utilizada para a produção da soja, da carne e do açúcar, em 2002 o país exportou 52,2 bilhões de metros cúbicos (m3) de água virtual, em 2003 foram 65,5 bilhões m3 e no ano seguinte este número subiu para 73,8 bilhões. Em 1997, esse valor não chegava a 30 bilhões de m3 de água. "O peso da produção de carne também aumentou muito no período, sendo que o aumento do rebanho brasileiro sinaliza no sentido do país se consolidar também como maior exportador mundial de carne", ressalta o trabalho.
Segundo as contas da Agência Nacional de Águas (ANA), cerca de 11% da água consumida no país destinam-se ao abastecimento animal, nada menos que a mesma proporção destinada ao abastecimento urbano. O rebanho bovino brasileiro, de acordo com o último censo agropecuário, já soma mais boi do que gente: 193 milhões de cabeças de gado contra 186 milhões de habitantes.
Além disso, a exportação de água virtual tende a crescer se confirmado o potencial do país para irrigação. Houve um crescimento das áreas irrigadas no Brasil de 2,3 milhões de hectares, em 1990, para 3,1 milhões. O potencial para o desenvolvimento da irrigação, que já usa quase 70% do total da água consumida no país é estimado em nada menos que 29,5 milhões de hectares.
"É necessário que os tomadores de decisão saibam o que é necessário internalizar para a produção de um produto que eles tentam exportar. É um passivo ambiental pesado para o país", avalia o professor Demetrios Christofidis, doutor em Gestão Ambiental pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB). A preocupação cresce se considerada a desigualdade na distribuição de água do Brasil.
Apesar de possuir 12% das reservas de água doce do planeta, sua distribuição pelo país é desigual e já aponta para situações de escassez. A região hidrográfica Amazônica, segundo levantamento da ANA, detém 68% dos recursos hídricos superficiais em uma área equivalente a 44% do território nacional. No entanto, é ocupada por apenas 4,5% da população brasileira. O oposto ocorre em outras regiões, a exemplo da região hidrográfica do Atlântico NE Oriental, onde estão cinco capitais nordestinas, que ocupa 3,4% da área do país, concentra 12,7% da população e apenas 0,5% da água.
Segundo Christofidis, por exemplo, a tendência brasileira é de redução na área total de pastagens até 2015 para o conjunto do país, mas com crescimento na região Norte, onde está a Amazônia, as terras são mais baratas e a água está concentrada. "E temos de estar atentos não só a quantidade de água utilizada, mas também à qualidade da água que é devolvida aos mananciais", alerta.

Cobrança e uso

Entre os seis instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos está a cobrança pelo uso da água. Ojima salienta a necessidade de associar a discussão da água virtual à da cobrança, especialmente no caso do setor agropecuário. Hoje a cobrança está implementada apenas na Bacia do Vale do Paraíba.
"Esta discussão não chegou à esfera da cobrança, que, aliás, ainda está só no âmbito das águas superficiais", reclama Ojima. Para se ter uma idéia, o Brasil exportou, segundo o MDIC, 86,8 bilhões de m3 de água virtual apenas em soja, carne e açúcar em 2005. Se o preço dessa água fosse R$ 0,02 por metro cúbico, que é o valor cobrado para o uso da água no Paraíba do Sul, teriam sido arrecadados nada menos que R$ 1,7 bilhão no ano passado para reaplicação nas bacias do país.
Contudo, a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) já sinalizou que discorda da cobrança pelo uso da água, alegando riscos para a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional. "O setor ainda está na expectativa e como muitas dúvidas com relação à cobrança. Será que o pagamento pelo uso [da água] é mesmo um instrumento de gestão? Iremos fazer esta discussão", promete Jairo dos Santos Souza, representante da CNA no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). A discussão também deve ser intensificada nas próximas revisões do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH).
O Instituto para a Educação da Água da Unesco e o World Water Council alegam que o comércio de água virtual alivia a pressão sobre os países que possuem poucos recursos hídricos, mas alerta que esse comércio deve vir acompanhado de uma política de conscientização para o uso de produtos que demandem uma quantidade menor de água. "Um plano consistente de educação ambiental e conscientização pode ter mais efeito que a própria cobrança", diz Christofidis.

Mudança no cardápio

Nos próximos 50 anos, a população mundial deve se estabilizar em torno de nove bilhões de pessoas. Segundo estimativas da ONU, em 2025, haverá mais de três bilhões de pessoas vivendo em países com escassez de água. A América Latina é depositária de 25% do estoque mundial de água, colocando-a como uma região com relativa abundância de água superficial.
O problema, segundo os pesquisadores da Unicamp, é que o consumo de produtos que necessitam de muito água para sua produção é alto no mundo, como é o caso da soja e do arroz. Já os produtos como o milho e a batata, que necessitam de menos água para a produção, são menos consumidos. Ojima argumenta que uma das sáidas para um planajamento sustentável da utilização dos recursos hídricos pode ser,no médio e longo prazo, a reestruturação do próprio cardápio.
"Grande parte do impacto ambiental do século XX veio da explosão do consumo e nem tanto da explosão demográfica. Temos que ter consciência deste comércio virtual para saber quanto isso pode afetar nossos ecossistemas", alerta.

Governo federal e Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis assinam termo de compromisso

04/07/2008 - 12h07 - Por Kamila Almeida, do MDS

A ministra em exercício do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Arlete Sampaio, participou nesta quinta-feira (03), da assinatura do Termo de Compromisso entre órgãos do governo federal e o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR). O documento estabelece o compromisso com o MNCR para construção de uma política pública no reconhecimento do trabalho dos catadores e desenvolvimento de ações para inclusão social e econômica do trabalhador. Serão investidas verbas para construção de galpões, implementação de projetos, aquisição de materiais e equipamentos, cursos técnicos em reciclagem, entre outros.

Além dos investimentos, a Unesco vai relançar o edital para projetos de apoio à organização de catadores. O edital permitirá fazer uma pesquisa sobre custo da coleta seletiva realizada pelos catadores em comparação com a coleta realizada pelas Prefeituras e pelas empresas para verificar o impacto dos trabalhos dos catadores para a cadeia produtiva da reciclagem. “Temos o compromisso de realizar ações para reconhecer os catadores”, reforçou Arlete Sampaio.

Participaram da assinatura representantes dos ministérios do Desenvolvimento Industrial e Comércio Exterior, das Cidades, da Saúde, do Trabalho e Emprego, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente e da Educação, da Caixa Econômica Federal, Subsecretaria de Direitos Humanos, BNDES, Casa Civil, Fundação Banco do Brasil e Petrobrás.

Crédito de imagem: André Carvalho/MDS

(Envolverde/Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome)

Ecojogos

De forma lúdica "ecojogos" informam as pessoas sobre problemas ambientais e sociais enfrentados pela humanidade.

Falar sobre os problemas que afligem a sociedade e introduzir novos conceitos não é tarefa fácil. Mesmo quando os assuntos em questão são de interesse de todos, como acontece com os temas ambientais e relativos à sustentabilidade das atividades humanas no planeta. Para tornar mais suave a lição, a moderna pedagogia ensina que buscar formas originais de comunicar o conteúdo pode ajudar, e muito, na aprendizagem. Tornando o processo mais rápido, eficiente e por que
não, divertido!

Por outro lado, para que jogos e brinquedos comercializados no mercado continuem atrativos é preciso que se mantenham antenados com o perfil do consumidor contemporâneo. Assim, o desafio é duplo. É necessário facilitar a compreensão de conceitos modernos, aproveitando maneiras lúdicas de transmitir o conhecimento e fomentar a crítica. Ao mesmo tempo, é preciso conseguir fazer isso conquistando e prendendo o interesse dos que estão sendo educados.
Uma das soluções encontradas pelos fabricantes e criadores de jogos, brinquedos e materiais didáticos de apoio é investir nos
chamados "ecojogos", que divertem e transmitem mensagens em prol do meio ambiente e de atitudes sustentáveis.

Nessa linha, a Estrela, tradicional fabricante de jogos e brinquedos, acaba de lançar o "Banco Imobiliário Sustentável", versão ambientalmente correta do consagrado jogo de tabuleiro, criado em 1944. Na versão renovada, a mecânica do jogo está
totalmente ligada ao tema da sustentabilidade. Em vez de bairros e ruas importantes, as casas do tabuleiro representam reservas
naturais como Pantanal, Rio São Francisco, Chapada dos Veadeiros e Serra da Mantiqueira. "A dinâmica do jogo foi desenvolvida para ser um processo pedagógico, que premia quem tem preocupação ecológica e pune quem não tem", explica Aires Leal Fernandes, Diretor de marketing da Brinquedos Estrela.

A preocupação ambiental não fica só por conta dos jogadores, o próprio jogo físico é ecologicamente mais correto. As peças
plásticas são feitas com o chamado "plástico verde", fabricado com um polímero derivado de cana de açúcar. O material além de ser biodegradável ainda contribuiu para a redução do efeito estufa ao absorver e fixar CO2 (gás carbônico) da atmosfera, durante o
crescimento das plantas. O tabuleiro, a embalagem e as cartas são feitos com papel reciclado.

Ainda, no Banco Imobiliário Sustentável, as companhias de transporte foram substituídas por empresas como Companhia de Reciclagem Energética, Companhia de Reflorestamento, de Agricultura Orgânica, de Reciclagem Mecânica. As cartas de Revés ou Sorte trazem, como exemplo, a mensagem de revés "sua empresa foi multada por poluir demais", ou a mensagem de sorte "você protegeu suas terras do desmatamento e faturou com o turismo ecológico".

O novo "ecojogo" chega ao mercado em julho, mas em edição limitada. Serão 10 mil unidades comercializados exclusivamente na rede de lojas do Wal-Mart Brasil, Parceiro Estratégico do Akatu, que também desenvolve um amplo programa interno de sustentabilidade. "Só teremos escala de produção para ampliar as vendas a partir de 2010, quando a Braskem (empresa responsável pela confecção do "plástico verde") terá concluído a linha de produção do novo polímero", explica Fernandes. A partir desta data, a empresa pretende ampliar gradativamente o uso do "plástico verde" em seus produtos. "A idéia é fazer carrinhos e bonecas com o material, além de novos jogos", conta o diretor de marketing da empresa.

Na linha dos "ecojogos", que além de utilizar o "plástico verde" em sua fabricação também abordam temas ambientais, a Estrela já tem programado o lançamento do "Mundo Novo", jogo direcionado aos pré-adolescentes e adolescentes e que aborda o aquecimento global. "No jogo os participantes vão trabalhar para salvar os continentes dos problemas causados pelo aquecimento do planeta", conta Fernandes.

Ecojogos on line - Além do novo Banco imobiliário estão também disponíveis na web diferentes jogos que tratam os temas ambientais e o conceito de sustentabilidade de forma lúdica. Maurício Gibrin, game designer, parceiro no desenvolvimento dos jogos cooperativos utilizados nas capacitações do Akatu, é um dos criadores do Greenpeace WeAther, jogo colaborativo em que o objetivo é salvar a Terra dos desastres ambientais. "É um jogo 100% cooperativo. O mundo está cheio de poluição e crises devido ao aquecimento global, entre outros fatores, e todos os jogadores precisam se unir para resolver os problemas do mundo. Se não conseguirem, todos perdem o jogo", explica Gibrin.

O WeAther, ganhador do Leão de Bronze na edição 2008 do Festival de Cannes, foi desenvolvido para o Greenpeace, em parceira com a AlmapBBDO, pela colmeia (produtora especializada na realização de projetos em novas mídias, como games, celular e internet ) e pelos game designers Fabiano Onça e Maurício Gibrin. O jogo está disponível on line, no endereço www.greenpeaceweather.com.br.
Para jogar é preciso reunir de 2 a 4 jogadores na internet. Um protótipo da versão de tabuleiro já está pronto e aguarda patrocínio para ser fabricado em escala.

O game designer Maurício Gibrin leva na bagagem o reconhecimento internacional pela criação do jogo "Ilha de Waka Waka", premiado no concurso de criadores de Boulogne-Billancourt em 2004, um dos mais importantes do setor. Ele acredita que tratar de temas complexos e importantes como sustentabilidade e aquecimento global usando jogos é uma maneira agradável de aproximá-los do dia-a-dia das pessoas. "Espero que os jogos ajudem as pessoas a abrirem os olhos. O jogo alerta as pessoas e as faz reavaliar seu modo de pensar", conclui.

Decisão do mercado – Muito além do idealismo, no entanto, investir a temática ambiental passou a ser também uma importante estratégia para quem pretende se manter alinhado com o que pensa e quer o consumidor contemporâneo. O diretor de marketing da Brinquedos
Estrela acredita que, embora não existam pesquisas quantitativas no país que comprovem o crescimento da demanda por "ecojogos", investir no tema da sustentabilidade vai ao encontro dos desejos do consumidor. "A indústria de brinquedos nada mais é do que um espelho daquilo que a sociedade está discutindo no momento", explica.

E sustentabilidade, acredita Fernandes, já está na pauta dos brasileiros. Ele explica que a Estrela realiza periodicamente
pesquisas qualitativas (com os chamados Focus Groups) para avaliar quais os assuntos e temas de interesse da população e, dessa forma, manter seus produtos em dia com o mercado. "E a questão da sustentabilidade já é um assunto recorrente nessas pesquisas", conta.

Mas se no Brasil a tendência de criação dos "ecojogos" está apenas começando, ela já é uma realidade na Europa, em especial na Alemanha e na França. "Fora do Brasil existem inclusive empresas que só fazem `ecojogos', tanto no que diz respeito aos materiais, quanto aos próprios temas abordados", conta Gibrin. Segundo o game designer, na França, os desenvolvedores de jogos ecológicos têm especial fascínio pelos temas relacionados à Floresta Amazônica e investem pesado no setor.

No Brasil, porém, a maioria dos "ecojogos" ainda está disponível apenas nas páginas da web. E como descobrir novidades com qualidade na internet nem sempre é fácil, Maurício Gibrin destaca algumas características que podem servir de pistas para identificar um "ecojogo" com mais facilidade. Confira a seguir:

- O "ecojogo" sempre passa uma mensagem (relacionada às questões ambientais e de sustentabilidade);

- Ajuda o jogador a pensar sobre o tema ou mensagem e a analisar seus próprios pontos de vista sob uma nova ótica;

- São, em geral, cooperativos, ou seja, todos os jogadores trabalham juntos para atingir o mesmo objetivo e ganham ou perdem, em equipe, embora alguns ainda sejam competitivos;

- São fabricados com materiais ecologicamente corretos;

Gibrin, alerta, no entanto, que os "ecojogos" embora cumpram um papel importante ao transmitir conhecimentos e auxiliar na difusão de novos modos de pensar, ainda são, acima de tudo, uma forma de entretenimento. "Todo jogo tem que continuar a ser divertido, senão perde sua razão de ser", ensina o especialista.

Para jogar on line

WeAther

O "WeAther", do Greenpeace, trata dos problemas causados pela emissão de gases poluentes e pelo aquecimento global. Site em português.

http://www.greenpeaceweather.com.br/

Energyville – O jogador precisa providenciar energia em quantidade suficiente para abastecer uma cidade de 3,9 milhões de pessoas e, ao mesmo tempo, mantê-la limpa, segura e economicamente viável. As escolhas dos jogadores têm impactos econômicos, tecnológicos e ambientais sentidos pelos moradores locais. Versão em inglês.

http://www.willyoujoinus.com/energyville/

Honoloko

O jogo acontece na Ilha de Honoloko, que é muito semelhante ao nosso mundo e onde as nossas ações impactam o meio ambiente onde vivemos.
O objetivo do jogador é tomar decisões que melhorem a saúde dos habitantes e o ambiente de Honoloko. O jogo é direcionado a jovens e adultos. O jogador pode escolher entre 26 idiomas, inclusive uma versão em português.

http://honoloko.eea.europa.eu/Honoloko.html

Para as crianças:

Eco Kids – Site feito sob medida para a criançada. Propõe-se a transmitir aos pequenos, por meio de jogos e entretenimento,
conhecimentos básicos sobre cidadania e meio ambiente. O público-alvo são crianças entre 4 e 7 anos. Site em português.

http://www1.uol.com.br/ecokids/

Ecoagents – Special Units

Os jogadores podem se tornar Ecoagentes, da Agência Européia do Ambiente (AEA), encarregada de recolher informações sobre o ambiente em toda a Europa. Como ecoagentes podem ajudar a proteger o meio ambiente e os recursos naturais. O público-alvo são jovens e crianças de 7 a 14 anos, mas o site é inglês.

http://ecoagents.eea.europa.eu/
(Envolverde/Instituto Akatu)